A aventura desta vez
foi fazer a Grande Rota do Vale do Côa. O Rio Côa é dos poucos rios em Portugal
que corre de sul para norte, nasce na Serra das Mesas a 1175m de altitude na
freguesia de Fóios, concelho de Sabugal e atravessa os concelhos de Almeida,
Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa, acabando por
desaguar no Rio Douro.
A preparação foi em
Fóios, uma freguesia do concelho do Sabugal onde deixámos o carro. Eram 12h45
quando começámos a pedalar rumo à nascente do Rio Côa onde realmente começa a
aventura, foram logo 6 km a subir para chegar ao início da aventura… foi para
aquecer!!
A boa foi que os mesmos 6 km que subimos começámos por descê-los, com
a Serra da Gata à direita completamente branca mais parecia que estávamos nos
Alpes. Interessante que é precisamente a estrada que marca a fronteira, do lado
direito temos placas em espanhol do lado esquerdo em português.
Voltámos a passar em
Fóios e começámos a subir Vale do Espinho. Apanhámos o primeiro ponto de água,
prontamente aparece um senhor a dizer que temos que dar a volta por estrada
senão molhamo-nos… “Faz parte, não se preocupe!” dizemos nós, passamos a água e
entramos numa serra de pinheiros.
Aqui
perdemos algum tempo, o trilho estava completamente tapado com pinheiros
cortados, ainda tentámos passar com as bikes às costas mas tornou-se
impossível, tivemos que contornar por outro caminho até apanhar novamente o
trilho onde fizemos a primeira paragem junto ao rio para carregar energias.
Continuámos caminho ao
lado do rio com passagens de margem que iriam fazer parte dos nossos dias.
Passamos por Quadrazais e entramos na Serra da Malcata, subimos, subimos…
subimos… que nunca mais acabava, aqui foi mesmo só subir para voltar a descer,
o objectivo é passar no posto de Vigia da Serra da Malcata, o Alto da Machoca a
1078m de altitude, que permite apreciar a vista magnífica sobre o Côa e o
Sabugal.
Quando chegámos ao
Sabugal já passavam das 18h, restava-nos uma hora de sol, acabámos por atalhar
os últimos 11 km por estrada para chegar a Rapoula do Côa, onde terminava a
primeira etapa. Terminámos com 65km e 1640m de acumulado.
O alojamento tinha sido
articulado com a Junta de Freguesia de Rapoula do Côa com o Sr. Álvaro Santos,
esperava-nos a D. Odete que nos guiou “à quinta”, ao Refúgio no Campo – Turismo
Rural, uma verdadeira surpresa para quem estava à espera de dormir num saco de
cama. Conhecemos a família da quinta, a D. Otília, o Sr. Norberto e o filho Tomás.
A D. Otília, sem nos
esperar, rapidamente disponibilizou um quarto, fez-nos o jantar delicioso com
tudo o que precisávamos para repor baterias para o próximo dia. Aconselho
vivamente! Acolhimento familiar, condições espectaculares, muito bom gosto e
excelente comida. Além de turismo rural a quinta é também pedagógica, com um
lago biológico e animais para tratar.
O pormenor do relógio do quarto... :D
No dia seguinte
esperava-nos um pequeno-almoço de campeões para os 80 km que tínhamos pela
frente. A D. Otília sugeriu que levássemos umas sandes para o caminho e umas
queijadinhas feitas por ela, mal sabíamos que era o melhor que fazíamos. Com
-3º, o Sr. Norberto reparou que eu tinha deixado as luvas em cima da bicicleta
na rua… estavam congeladas! Trouxe-as para a lareira para as vestir quentinhas.
A D. Otília ainda nos lavou a roupa do dia anterior e o Tomás, que também faz
BTT, deu-nos umas luzes do que nos esperava.
Antes de sair ainda fomos ver os animais :)
Com tanto mimo foi difícil vir
embora, parecia que tínhamos ido visitar uns amigos... da próxima será com
certeza pois proporcionaram-nos uma experiência tão agradável que com certeza
queremos voltar para os ver. Obrigado por tudo D. Otília, Sr. Norberto e Tomás!
Adorámos!
Pés nos pedais e lá
fomos nós às 8h45. Depois de Rapoula do côa o trilho segue por terrenos
agrícolas até Seixo do Côa, passando pelas Termas do Cró.
Por estrada de “alcatrão rural” chegámos à Ponte de Sequeiros, do séc. XIII, em Badamalos. Dado o caudal do rio nesta altura do ano optámos por fazer a etapa oeste da GRVC.
Durante as próximas 4
ou 5 horas não passámos em nenhuma povoação nem vimos vivalma… Foi um sobe e
desce no vale, do rio subíamos ao topo do vale, quando chegávamos lá acima
voltámos a descer até ao rio… um zig zag de vistas espectaculares, entre a
imensidão da serra e os recantos do rio. Algumas partes do trilho estavam quase
fechados com árvores caídas do inverno rigoroso e silvas gigantes, de certo há
algum tempo que ninguém faz esta etapa da rota, é também a mais recôndita.
Acabámos
a água e ficámos secos com tanto sobe e desce até encontrar uma povoação com um
ponto de água, tão perto e tão longe, perto num contexto de quilometragem e
longe no contexto da dificuldade de progressão e acesso a um bem essencial como
a água, foi sem dúvida a parte mais selvagem que fizemos. Valeu-nos a sandes e
a queijadinha da D. Otília ou não comíamos nada todo o dia a não ser barritas e
amêndoas…
A etapa acabava em
Quinta Nova, uma aldeia do concelho de Pinhel. O alojamento oferecido pela
Junta de Freguesia não estava em condições, o Sr. Carlos Videira Presidente da
Junta abriu-nos a porta de uma casinha que tem na aldeia para passarmos a
noite. Sabíamos previamente que em Quinta Nova não havia sítio para comer e
portanto, no caminho fizemos um desvio por Pinhel para nos abastecer, cada um
levou um saco de compras e fizemos um belo repasto. Demos descanso às pernas depois
de 78km a pedalar e 1990m de acumulado.
Mítico... :D
No dia seguinte saímos
de Quinta Nova pelas 9h00. Uma verdadeira surpresa logo pela manhã, 5km a
descer por entre vales até às entranhas do Côa, uma imensidão de montes
cobertos de alfazema e giestas e algumas amendoeiras ainda em flor.
Se gostámos dos 5km a
descer até ao Côa, a seguir amámos os 10km a subir… Aqui afastámo-nos do rio,
sendo a etapa com menos pontos de água no entanto, o muito que subimos pela Serra
da Marofa permitiu-nos vislumbrar a imensidão daquela serra, continuávamos sem
ver ninguém, passámos por três pequenas aldeias completamente desertas.
Fizemos meia dúzia de
kms por estrada até à Reserva da Faia Brava. Esta reserva tem cerca de 850
hectares, foi a primeira área protegida privada do país exclusivamente para a
conservação da natureza, onde os proprietários
florestais colaboram para desenvolver um projecto conjunto de gestão
sustentável de habitats importantes.
Pedalámosao lado de vacas maronesas e cavalos garranos em
estado semi-selvagem.
Esta zona caracteriza-se pelos pombais
nas suas paisagens, construídos para a domesticação e
criação de pombos selvagens. Tinha como principal objectivo a criação dos
pombos para aproveitamento dos borrachos para alimentação e para a produção de
estrume nos terrenos agrícolas.
Depois de atravessar a Reserva, a próxima povoação foi Algodres onde nos abastecemos de água e vimos o caso mal parado com uma matilha que não estava com muita vontade de nos deixar sair da aldeia.
Aqui o track foi por estrada até Almendra. Em Almendra o fim-de-semana era de festa, assistimos à banda a tocar e seguimos caminho O tempo andava a ameaçar e nós a conseguir escapar mas, aqui tivemos que nos abrigar numa casa de pedra para que a chuva passasse. chegámos a Castelo Melhor, percebemos que o track não nos levava a
subir ao castelo, ufa!.. quando percebemos que nos levava exactamente para o
morro mais alto da zona que tem a Capela de S. Gabriel, mas mais uma vez as
paisagens compensam as dores nas pernas, que vista fabulosa!
Passamos em Orgal, a
última aldeia (também fantasma) antes do final da Rota. Começámos a
aproximarmo-nos do fim, esta última parte já é feita por extensas áreas de
vinhas e pelo que parecia, uma vez que estávamos no topo e faltavam 4 ou 5 km,
seria só descer e curtir os últimos kms. E que descida ao zig-zag por ali a
baixo em direcção ao rio…
Quando chegámos à ponte, onde supostamente terminaria
a nossa aventura, percebemos que o track continuava… continuava e acabava no
Museu do Côa, bem lá em cima… para acabar em beleza subimos o Vale do Forno,
uma antiga calçada murada que nos levou até ao final da nossa travessia.
Terminámos a última etapa no Museu do Côa com 57km e 1670m de acumulado.
No Museu do Côa esperava-nos
o Ricardo Nabais da empresa Rotas e Raízes, engenheiro florestal que trabalhou
na GRVC e conhece as entranhas daquelas terras, que nos fez o transporte até
Fóios onde deixámos o carro.
No final desta aventura
somámos 200km (menos 16km da Rota original pelos desvios BTT dado caudal do rio
e os atalhos necessários) e 5300m de acumulado. Subimos muito mas também descemos
muito! Que loucura!! Que fuga!!
Obrigado a todos
aqueles que de alguma forma contribuíram para esta experiência magnífica,
particularmente, Sr. Álvaro Santos e D. Odete da JF Rapoula do Côa, D. Otília,
Sr. Norberto e Tomás do Refúgio no Campo, Sr. Carlos Videira da JF de Pinhel e
Ricardo Nabais da Rotas e Raízes.
Boas pedaladas! Até à próxima fuga!
Tânia